Tô louca pro mundo acabar” (Letrux, 2017). Talvez ele já tenha acabado, só esqueceram de avisar.
- Priscila Richter
- 21 de mai.
- 2 min de leitura

Estamos vivendo tempos tão estranhos que a lucidez parece loucura. Não é mais exagero afirmar que estamos diante de uma espécie de colapso silencioso, onde o absurdo se tornou norma, e a dor humana, produto descartável embalado em plástico bolha emocional.
Recentemente, uma notícia publicada pela Veja chamou a atenção: um projeto de lei visa impedir que bebês reborn sejam atendidos pelo SUS. O simples fato de essa regulamentação ser necessária já é, por si só, um sintoma. Um sintoma de uma sociedade em ruínas afetivas, tentando, de forma desesperada, colar os cacos da solidão com silicone e resina vinílica.
Esses bonecos, que em sua originalidade são brinquedos para crianças, vêm sendo utilizados como "filhos" de adultos. Estamos vivendo tempos tão estranhos que a lucidez parece loucura. Não é mais exagero afirmar que estamos diante de uma espécie de colapso silencioso, onde o absurdo se tornou norma, e a dor humana, produto descartável embalado em plástico bolha emocional.
Bauman já nos alertava sobre os relacionamentos líquidos: vínculos frágeis, efêmeros, descartáveis, nos quais o compromisso é substituído pela conveniência e a presença, pela conexão Wi-Fi. Amar virou risco. Viver virou exaustão. E, para muitos, um boneco é mais seguro que um humano porque não exige, não abandona, não trai, não decepciona.
Na era da ansiedade crônica, do imediatismo e da performance emocional, o bebê reborn é uma metáfora viva (ou quase viva) da desesperança. É o substituto do que já não sabemos mais cultivar: intimidade, afeto, escuta, vínculo real.
Estamos vivendo na sociedade do absurdo, como diria Camus, na qual o ser humano busca sentido em um mundo indiferente, que gira rápido demais para que possamos entender. E quando o sofrimento se torna insuportável, criamos refúgios simbólicos. Alguns escrevem, outros se entorpecem. Outros tantos embalam bonecos que não choram.
O mundo está mesmo acabando, mas não com explosões, e sim com esvaziamentos. Acaba toda vez que trocamos um abraço por uma curtida. Toda vez que o silêncio entre dois corpos é preenchido pelo barulho de notificações. Toda vez que se finge que está tudo bem, enquanto o peito aperta e os olhos secam.
“Tô louca pro mundo acabar”, canta Letrux, não como desejo apocalíptico, mas como suspiro cansado de quem já viu demais e sentiu de menos. Talvez este mundo já tenha acabado e o que tenha restado seja um teatro de bonecos, interpretando vínculos que já não existem.
E você? Ainda está vivo?
#SaudeMental #RelacionamentosLíquidos #Reflexão #Psicologia #VidaModerna #SofrimentoHumano #InteligênciaEmocional #ComportamentoHumano #CulturaContemporânea #SociedadeDoCansaço #Empatia #Existencialismo #TranstornosMentais #Humanidade #MundoAtual #PsicologiaExistencial #Autenticidade #Solidão #SentidoDaVida #Letrux #BebêReborn #Veja
Comments